Leitura Recomendada

Se você deseja ser um escritor, pense assim: sua leitura obrigatória já está com um atraso de aproximadamente 6.000 livros.

Assustador? De forma nenhuma. É maravilhoso. Pense em tudo o que você ainda pode aprender, os detalhes das personagens que vai conhecer, todos os lugares, dos mais sagrados aos mais profanos, dos requintados aos vulgares, das cavernas aos  palácios, das alcovas aos salões de baile, em que você será sorrateiramente admitido, simplesmente por ser um leitor. Quer conhecer a mente de um gênio? De um mineiro de carvão? De um assassino serial? Quer entender porque uma criança sorri quando pisa descalça na grama, ou porque um por de sol pode umedecer os olhos de um casal? Então não se apavore com o número acima, e leia. Se for mais fácil para você, pense que são 6.000 quilômetros da melhor viagem que já fez na vida, e que a cada centímetro desta estrada, às vezes asfaltada e sinalizada, às vezes completamente destruída e devorada por uma floresta assustadora, existe, não a possibilidade, mas a probabilidade de que coisas excitantes acontecerão. Continue reading “Leitura Recomendada”

Caçadores Caçados

É mais fácil criar um estilo ou contar uma história? Ao que tudo indica, pelo menos no Brasil, o mercado literário valoriza mais o virtuosismo estilístico do que a pobre missão de se contar uma história. Viva os malabaristas de teses! Morte aos contadores de histórias!

Autores julgam mais seguro produzir textos diferentes, em estrutura e apresentação, dando-se a desculpa de que não desejam percorrer caminhos já abertos. O fato é que criar um estilo é fácil. O difícil é não se cansar de ler tantas experiências: livros que são constituídos de um único parágrafo; frases imensas sem vírgulas ou pontos; diálogos incompreensíveis mesclados com descrições e efeitos sonoros; tudo aparentemente criativo, mas relegando ao porão os elementos que compõe uma boa história. Onde fica o enredo? As personagens? O herói? Aquela impecável escolha do foco narrativo? Ninguém mais pensa nos conflitos? Droga, ninguém mais pensa no leitor? Continue reading “Caçadores Caçados”

Relançamentos: um esporte nacional

Por que ler os clássicos? Italo Calvino deu a melhor de todas as respostas à esta pergunta: Por que é melhor do que não lê-los. Concordo com ele. Ótimo, vamos ler Tolstói, Balzac, Stendhal, Voltaire, Conrad… Mas…

Eu não sei o que acontece na rarefeita atmosfera das academias e editoras. Eles ainda não perceberam que nem só de clássicos vivemos os pobres mortais. E onde fica a literatura de entretenimento? Não me refiro às coisas (nem livros são) descartáveis, pobres de conteúdo, concebidas unicamente visando lucro e que entopetam as prateleiras das livrarias, mas à boa literatura de entretenimento. Aquela que faz o leitor pensar três vezes antes de ligar a televisão, pois “precisa” saber o que vai acontecer com aquela personagem. Continue reading “Relançamentos: um esporte nacional”