“Numa toca no chão vivia um Hobbit”. Esta é a primeira linha de O Hobbit e é provavelmente um dos mais famosos começos de toda a literatura inglesa. Seu autor é John Ronald Reuel Tolkien, ou simplesmente Tolkien.

Anel de Poder do Senhor dos AnéisNascido em Bloemfontein, na África do Sul em 3 de janeiro de 1892, mudou-se em 1895 com sua família para a área rural da Inglaterra. Morreu em 1973 deixando inúmeras obras, entre as mais importantes, a trilogia “O Senhor dos Anéis” e “O Hobbit” que é uma introdução à sua obra onde são apresentados seus personagens mais famosos.

J. R. R. TolkienTolkien criou um mundo, a Terra Média. Desenhou mapas que indicam a localização de cada rio, mata ou acidente geográfico importante. Estudioso e especialista do inglês antigo e medieval, davas aulas de lingüística e aproveitou seu conhecimento para incorporar uma série de elementos inéditos em seus livros. Assim criou um alfabeto e uma língua com regras de gramática e pronúncia. Em seguida imaginou um povo para habitar este mundo e deu a ele uma história, heróis para reverenciar e inimigos para temer. Criou um calendário, leis e uma mitologia. Reproduziu as árvores genealógicas de seus personagens principais com atenção aos detalhes de até seis gerações diferentes. Várias raças habitam esta região, incluindo seres humanos, Elfos, Trols, Duendes e, os mais famosos, os Hobbits. Todas estas informações estão em grande parte incorporadas no final do terceiro volume da trilogia, em seis apêndices somando quase 200 páginas.

O impacto deste feito em seus admiradores é tão forte que, todos os anos no aniversário de Tolkien, conhecedores da língua dos Hobbits se encontram no seu túmulo e, na língua criada por ele, cantam hinos e músicas tradicionais da Terra Média. Atualmente na Inglaterra, onde sem dúvida sua influência é maior, o livro mais vendido é a Bíblia e, em segundo lugar, O Senhor dos Anéis.

Capa do DVD Retorno do Rei - Segundo livro em Senhor dos AnéisA inspiração para a trilogia, que na edição de bolso americana tem mais de 1.800 páginas (a reunião em um só volume em português tem 1202 páginas), começou de uma maneira inusitada. Tolkien estava corrigindo algumas provas de seus alunos quando se deparou com uma página em branco. Quando percebeu, já havia escrito “Numa toca no chão vivia um Hobbit”. Tolkien nunca soube de onde veio a frase, mas ali começava a verdadeira obra de sua vida, pois precisava descobrir como era e onde ficava aquela toca e, especialmente, quem era aquele tal de Hobbit.

Acabou tão envolvido com esse assunto que criou uma pequena história para seus filhos. Amigos e parentes ouviram o relato e passaram adiante. Em 1936, uma versão incompleta chegou até as mãos de Susan Dagnall, uma funcionária da editora “George Allen & Unwin”.

Susan Dagnall pediu que Tolkien terminasse o texto e apresentou o livro a Stanley Unwin, presidente da editora. Esse fez uma experiência com seu próprio filho de 10 anos, que adorou. “O Hobbit” foi publicado em 1937 e se transformou em um sucesso imediato.

Hobbits no filme Senhor dos AnéisAssim que “O Senhor dos Anéis” foi lançado (entre 1954-1955), rapidamente conquistou a atenção do público e, apesar dos críticos estarem divididos, as vendas renderam um lucro razoável para a editora e para o próprio autor. O New York Times Book Review publicou uma resenha onde deixava claro que aquela obra era “uma experiência única, evocada dos confins do tempo, detalhada, absorvente, divertida e repleta de significado”.

Mas a verdadeira surpresa ocorreu em 1965. Uma versão “pirata” da trilogia passou a ser vendida em edição de bolso nos Estados Unidos. Com um preço bem baixo, foi comprado por centenas de milhares de pessoas. Tolkien entrou com uma ação contra os responsáveis por aquela edição e a publicidade gerada em torno do processo chamou a atenção de milhões de americanos que perceberam ter uma verdadeira jóia ao alcance das mãos. Em 1968 “O Senhor dos Anéis” já estava sendo encarado como uma bíblia da “Sociedade Alternativa”.

Retraído, o escritor não sabia bem como lidar com a fama e a adulação dos fãs, especialmente quando telefonavam para sua casa de madrugada para perguntar detalhes da vida de certos personagens, ou seus planos para futuras obras. E havia ainda outro problema. Chegou ao seu conhecimento que muitos dos seus leitores viajavam pela Terra Média tendo por guia o indefectível companheiro dos anos 60, o LSD.

Se hoje é uma unanimidade, na época do lançamento foi acidamente atacado pelos críticos e pelo resto da comunidade literária inglesa. Mas pouco se sabe destas críticas, na maior parte vazias. São murmúrios que desapareceram na história, afogados pelos gritos de louvor de milhões de apreciadores de sua arte, sua técnica e do mundo que ele criou.
E, como não poderia deixar de ser, vivenciamos mais um renascimento da obra de Tolkien pois a New Line Cinema, produtora de sucessos como Magnólia, investiu quase 300 milhões de dólares na filmagem da trilogia.

Legolas no filme Senhor dos AnéisVários dos mais de 40 livros que escreveu foram publicados por seu filho Christopher, após sua morte. Foi assim, sob a supervisão de um Tolkien que ocorreram as publicações de “O Silmarillion” , “Contos Inacabados”.

Além das obras sobre a Terra Média, Tolkien escreveu numerosos artigos, ensaios acadêmicos e diversos outros romances. Ainda céticos quanto ao mercado, os editores ficaram pasmos com a receptividade do público. Animados, editaram a série em 12 volumes de “Histórias da Terra Média” que são as coletâneas dos seus cadernos de anotações.

Até há pouco tempo só se encontravam no Brasil edições importadas de Portugal. Recentemente a editora Martins Fontes lançou “O Hobbit”, os três volumes de “O Senhor dos Anéis” (A Sociedade do Anel, As Duas Torres, O Retorno do Rei) e “O Silmarillion”.

Tolkien sempre foi levado a sério por seus leitores, apesar de escrever sobre duendes e monstros. Mas foi acusado de criar personagens unidimensionais: heróis imaculados e vilões retratados como a encarnação do “mal supremo”.

Defendia-se afirmando que na literatura de fantasia o leitor deve se identificar com o personagem principal ou seu companheiro mais próximo. Citava como exemplo Sherlock Holmes e o Dr. Watson. É por isso que personagens como Frodo exibem algumas qualidades arquetípicas, mas são seres comuns enfrentando situações incomuns.

O que Tolkien criou é mais do que uma simples história. É um universo paralelo com vida própria que evolui na mente dos leitores. Completamente cercado, o mais fácil é render-se e apreciar a força da narrativa, pois ainda não escreveram nada igual.

Serviço:

Tocas, anéis e vilões

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One thought on “Tocas, anéis e vilões

  1. Adorei o texto, Fábio! O universo de Tolkien é realmente fantástico, felizmente os filmes ficaram à altura da obra escrita. Estou desde já ansioso pra ver o que Guillermo del Toro e Peter Jackson nos reservam para a versão cinematográfica de “O Hobbit”. Um grande abraço!

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