Se você deseja ser um escritor, pense assim: sua leitura obrigatória já está com um atraso de aproximadamente 6.000 livros.

Assustador? De forma nenhuma. É maravilhoso. Pense em tudo o que você ainda pode aprender, os detalhes das personagens que vai conhecer, todos os lugares, dos mais sagrados aos mais profanos, dos requintados aos vulgares, das cavernas aos  palácios, das alcovas aos salões de baile, em que você será sorrateiramente admitido, simplesmente por ser um leitor. Quer conhecer a mente de um gênio? De um mineiro de carvão? De um assassino serial? Quer entender porque uma criança sorri quando pisa descalça na grama, ou porque um por de sol pode umedecer os olhos de um casal? Então não se apavore com o número acima, e leia. Se for mais fácil para você, pense que são 6.000 quilômetros da melhor viagem que já fez na vida, e que a cada centímetro desta estrada, às vezes asfaltada e sinalizada, às vezes completamente destruída e devorada por uma floresta assustadora, existe, não a possibilidade, mas a probabilidade de que coisas excitantes acontecerão.

A princípio, a recomendação de leitura para um escritor pode resumir-se em uma palavra: tudo. Leia tudo sobre tudo e sobre todos. Tenha um livro no porta-luvas do seu carro, na pasta que você carrega, no banheiro, na mesinha de cabeceira e na cozinha. Esqueci algum lugar? Tenha um livro lá também!

Leia jornais, revistas, livros de história, política, romances, ficção científica, policiais, bulas de remédios, letras de músicas, livros de contos e coletâneas de crônicas. Leia os clássicos. Todos os que são, todos os que serão, todos os que talvez sejam e a maioria daqueles que você tenha certeza que nunca serão. Na pior das hipóteses você vai aprender o que não fazer quando escrever um livro.

Leia em português, alemão, italiano, espanhol, inglês, francês, aramaico, iídiche… leia em todas as línguas que você conheça. Se você só entende português, leia mais em português.

Imagine-se como um lago. Profundo, imenso e que tem uma capacidade infinita para receber mais e mais informação. O excesso, aquilo que não fará diferença para sua vida ou sua carreira, aquilo que passou e foi rejeitado pelo seu senso crítico, como uma pequena ondulação feita por uma brisa inconseqüente na superfície do lago, deixe evaporar. Mas aquela onda, aquela vaga, aquela frase, aquele conceito, aquela obra ou aquela palavra que cai lá no meio do lago com espalhafato, chamando sua atenção, leve imediatamente para a sua parte mais profunda, ancore e a mantenha lá. Pode ter certeza que, de uma forma ou de outra, aquilo vai ser útil algum dia.

Lembre-se que quanto mais você ler mais vai aprender. Mas a maioria dos livros escritos em português sobre a arte de escrever (tenha certeza disto: ESCREVER É UMA ARTE) são produzidos por acadêmicos, orientadas a um leitor acadêmico que vive uma verdade acadêmica. Normalmente são muito distantes da realidade do mercado editorial e especialmente daquela peça fundamental no processo de publicar um livro: o leitor. É para ele que todos as gotas do seu suor, todos os seus insights, todos os seus sorrisos, sonhos e lágrimas têm que estar direcionados.

Tenha certeza de uma coisa: existem grandes autores brasileiros e portugueses. Apesar de serem de leitura obrigatória, não me refiro somente a escritores como Machado de Assis, Luis de Camões, Guimarães Rosa (maravilhoso), José de Alencar, Carlos Drumond de Andrade ou Jorge Amado. Vá até a biblioteca ou livraria mais próxima e procure obras de romancistas, cronistas, contistas, dramaturgos ou poetas, como Mário Palmério, Marcelo Rubens Paiva, José Roberto Torero, João Gilberto Noll, Luiz Fernando Veríssimo, Monteiro Lobato, Valêncio Xavier, Moacyr Scliar, Lygia Fagundes Telles, Lima Barreto, Dalton Trevisan, Carlos Heitor Cony, Millôr Fernandes, Hilda Hist, Haroldo de Campos, Augusto de Campos, José Saramago, José Paulo Paes, Fernando Pessoa, Nelson Rodrigues, Érico Veríssimo, Clarice Lispector…

Mas não se esqueça e, só porque eles são estrangeiros, não tenha vergonha de dizer que gosta, de autores como Umberto Eco, Gabriel Garcia Márques, Jane Austen, Italo Calvino, Charles Dickens, Anton Tchecov, E. E. Cummings, T. S. Eliot, Dante Alighieri, F. Scott Fitzgerald, a família Brontë, Ambrose Bierce, Hemingway, Victor Hugo, Twain, Thoreau, Tennessee Willians, Proust, Tolkien, Melville, Joyce, Hesse, Tolstoy, Julio Verne, Thomas Mann, Emile Zola, Dostoievsky, Albert Camus, Henry Miller, Rushdie, Jorge Luiz Borges, Boccaccio, Balzac, Platão, Gibran, Stendal, Anthony Burgess, Ayn Rand, Maugham, Greene, Huxley, Steinbeck… você terá também que ler o maior número possível das obras de William Shakespeare… ou pelo menos ver alguns dos filmes sobre a sua obra. E se prepare para uma surpresa: se você assistir as versões dirigidas por Keneth Branagh, você vai simplesmente adorar. Mas…

… lembre-se de ler ainda Carl Sagan, Ken Follet, Antoine de Saint-Exupéry, Spencer Lewis, Frederick Forsyth, Richard Bach, Isaac Asimov, James Michener, o Kama Sutra (ilustrado é melhor), Tom Clancy, Frank Herbert, James Clavell, David Morrel, Robert Ludlum, Arthur C. Clarke; leia o Tao Te King de Lao Tsé, o evangelho de Jesus Cristo, a Bhagavd Gita, Alan Kardek, Jung… e quantos eu deixei de fora desta lista que estaria apenas começando…

Nunca encontrei uma relação específica dos melhores livros para escritores e, todos aqueles que tiveram a infelicidade de cruzar meu caminho acabaram nas minhas estantes, condenados eternamente a ouvir blues, Beethoven e respirar incenso. Assim, só posso indicar os que eu li e que, de uma forma ou de outra, me ajudaram. Entre eles estão livros de teoria literária, gramática, estilo e até simples manuais do tipo “Como escrever um romance…”

É provável que a maior parte deles ainda esteja à venda, mas acredito que será mais fácil encontrá-los em uma livraria virtual como Submarino ou Amazon. Não estão em nenhuma ordem especial, a não ser a “desordem” em que se encontram na prateleira mais próxima do meu computador.

Meu inglês é muito bom, meu espanhol é passável mas eu não falo francês, italiano… nem aramaico. Assim, é fácil notar uma predominância de obras em português, inglês e espanhol. Com certeza, se você domina outros idiomas, e procurar, vai encontrar publicações neste mesmo estilo.

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