Se você gosta de escrever contos ou romances acho que vai gostar do que relaciono abaixo. São algumas das práticas que, como escritor, adoto no dia-a-dia. São também hábitos profissionais positivos de outros escritores que acabei incorporando na minha atividade. Mas lembre: não são verdades absolutas. Funcionam para mim.

Faça o que eu faço. Se quiser…

Já ouviu aquela história de que um marceneiro sempre tem um martelo ou serrote preferido? O mesmo acontece com advogados, médicos, engenheiros e mecânicos. Não vamos nem falar em chefes de cozinha e suas facas. Com a experiência aparecem pequenas idiossincrasias que afetam, às vezes para melhor e às vezes para pior, o trabalho do profissional. O uso de certas ferramentas ou determinadas práticas podem determinar, em longo prazo, o sucesso ou o fracasso de um projeto.

Por exemplo, por muitos anos eu só conseguia sentar para escrever depois de lavar a louça, limpar o banheiro dos gatos, colocar a roupa para lavar e tomar banho. Esta preparação (doentia, eu sei) tomava em torno de 90 minutos. Com freqüência eu gastava mais tempo me preparando do que escrevendo (eu sei, eu sei, não diga nada). O resultado é óbvio: muito tempo investido e pouca produtividade.

Se o seu negócio é escrever hai kais o tempo total de edição será provavelmente menor do que aquele para escrever um livro de 300 páginas. Mas se todo dia antes de escrever você cumpre um ritual que demora duas horas, o tempo total de edição vai ficando ridiculamente longo. O que acontece então com o tal livro de 300 páginas? Exato, demora anos para ser terminado.

Vamos fazer um acordo? Analisando friamente, não faz diferença na qualidade de seu texto se sobre a pia estão empilhados dois ou três pratos. Não vou processar você se suas roupas forem lavadas somente no final da tarde e as xícaras do café da manhã não gritam e se suicidam no chão da cozinha se você deixá-las lá sozinhas por mais uma hora.

Então vá escrever, ok? Mas antes dê uma olhada não nas manias, mas nas práticas positivas que escritores adotam em pesquisa, técnicas gerais, revisão, divulgação e outras fundamentais para o sucesso do manuscrito.

Pesquisa

  • Deixe que outros façam certas pesquisas para você. É possível encontrar informações valiosas com agentes de viagens, em panfletos, com bibliotecários e donos de lojas.
  • Dependendo do texto que você esteja escrevendo, talvez seja necessário fazer entrevistas. Faça então uma lista com os nomes de todos as pessoas que você vai entrevistar, separando-as em categorias como: fontes oficiais, especialistas e fontes acadêmicas que desenvolvem estudos ou trabalhos na área de seu interesse. Depois, entreviste “pessoas reais” que são afetadas direta ou indiretamente pelo assunto que você está pesquisando.
  • Quando for realizar entrevistas, leia o máximo que puder sobre o assunto e leve suas perguntas por escrito. Comece com perguntas mais fáceis, para ir “aquecendo” a pessoa. Termine com as perguntas que podem perturbar ou até enraivecer o entrevistado.
  • Quando for marcar um horário para entrevistar alguém, esteja pronto caso a pessoa diga: – Ok, vamos fazer a entrevista agora.
  • Se você estiver com dificuldades para fazer aquele primeiro rascunho, faça o seguinte: leia a respeito do assunto. Tome notas. Leia de novo, prestando atenção para “o que não está ali”.
  • Faça pesquisas em bibliotecas, na Internet e/ou entrevistando pessoas. Quando as informações começarem a soar repetitivas, chegou na hora de parar a pesquisa.
  • Arquive suas anotações e informações imediatamente. Use um sistema funcional de organização para suas anotações, seja em computador ou fichas de arquivo: nada é mais frustrante e desgastante do que passar horas procurando uma informação que você “achava que estava lá”.
  • Leia e releia suas anotações. Sublinhe as partes mais importantes. Faça um esquema. Depois detalhe o esquema. Transforme este esquema detalhado em um resumo. Desenvolva o resumo. Mas lembre-se que vai chegar um momento em que você vai ter que escrever o texto propriamente dito.
  • Quando estiver escrevendo uma história complicada, faça um roteiro resumido das cenas. Se ainda assim estiver perdido, escreva as cenas resumidamente em pequenas fichas e espalhe tudo na sua frente. Assim você terá uma visão de conjunto da sua obra, facilitando a análise da seqüência de cenas e capítulos.
  • Sempre escreva uma “primeira versão”. Não crie desnecessariamente a imensa pressão de escrever sua “obra prima” assim que seus dedos toquem no teclado.
  • Com freqüência sua “primeira versão” poderá ser muito longa. Não tenha medo de cortar palavras, parágrafos e até cenas inteiras. Tirar um personagem do livro não é o mesmo que matar um amigo. Você acaba esquecendo e usando “o amigo” em outra situação. Mas use o bom senso. Em ficção, muitas vezes, menos é mais.
  • Quando estiver satisfeito com seu texto, verifique todos os fatos. Duas vezes.

Técnicas

  • Nunca… nunca jogue fora as suas anotações de pesquisas.
  • É muito importante saber escrever diálogos. Como um exercício, reproduza uma linha de diálogo que você tenha ouvido em qualquer lugar. Em seguida faça com que a conversa “caminhe”, não importa para que lado.
  • Abra um dicionário e escolha uma palavra qualquer. Escreva uma pergunta usando esta palavra e depois escreva a resposta.
  • Ao escrever um diálogo, analise as falas do ponto de vista da personagem, do local e do enredo. Depois faça-se as seguintes perguntas: Quem está dizendo isto, como é esta personagem fisicamente e qual sua ocupação? Porque esta personagem diria algo assim? Qual é a emoção dominante desta personagem neste momento? O que fez esta personagem dizer isto? Com quem ela estava conversando? Quais são os objetivos específicos desta cena? Quais são os sons e odores ambientes que seriam capazes de influenciar esta conversa? Este diálogo evidencia algum traço importante da personagem que contribui de alguma forma para o andamento do enredo? Se estas perguntas tiverem respostas insatisfatórias, repense o uso do diálogo e até da cena como um todo.
  • Escreva “resmas” de diálogos. É muito melhor na hora da revisão final ter à sua disposição várias opções e poder dar-se ao luxo de escolher entre as melhores.
  • Os textos que você produz não são como seus filhos: intocáveis, puros e perfeitos. Se alguém lhe der sugestões, ouça todas. Descarte o que não for útil e use o resto.

Revisão

  • Contrate um profissional para corrigir seu texto. Você não terá dificuldades para encontrar um professor de língua portuguesa ou literatura que, mediante um valor previamente acordado, corrija seus originais e converse com você sobre o livro como um todo. Dê preferência para professores universitários dos cursos de letras ou jornalismo. Pagar até US$ 1,50 por página é razoável.
  • Lembre-se que o papel do editor não é só publicar seu livro. Ele tem direito (e provavelmente fará uso dele) para editar seu texto. Isto é: ele poderá sugerir e mesmo fazer alterações. Poderá até condicionar a publicação a certas alterações.
  • Nunca mande textos para análise sem antes revisar o material em uma cópia impressa.
  • Quando o texto estiver terminado, afaste-se dele. Fique algum tempo sem ler nada sobre o assunto. Pelo menos dois meses. É o suficiente para você criar um distanciamento em relação à sua criação. Você terá “esquecido” certas partes. Arme-se então do mais afiado senso crítico e aborde o texto como um pirata, pronto a cortar, eliminar, saquear e só levar consigo o que é realmente bom e valioso.

Divulgação

  • Mantenha uma agenda atualizada com os nomes e os telefones e/ou e-mails de todas as pessoas que você precisou entrevistar para produzir seu texto.
  • É imperativo que você inclua nos agradecimentos do seu livro uma menção a todas as pessoas que você entrevistou. É também muito bom mencionar aqueles que leram o original antes do livro ser publicado.
  • Deixe seu revanchismo de fora dos agradecimentos e dedicatórias. Publicar uma obra deverá ser mais do que suficiente para apagar de sua memória os desgostos, os sorrisos velados e os comentários à meia voz pelas suas costas. Você não precisa carregar o resto da vida o peso das pessoas que não acreditavam em você.

Fundamental

  • “Ouça” sua intuição. Ela é como uma amiga fiel. Se você a trair vai se arrepender amargamente.
  • Não confie só no seu computador.
  • Não faça backups só em meios eletrônicos. Além de CDs, DVDs, arquivos virtuais em servidores na internet e flash drives, que tal imprimir seus textos de vez em quando?
  • Tenha cópias (mesmo que seja só em meios eletrônicos) das diversas fases do seu processo. E mantenha cópias em lugares diferentes de onde fica o seu computador. Seguro morreu de velho… e tranqüilo, com cópias de segurança do seu trabalho.

Você tem manias ou práticas quando escreve? Divida com a gente!

Dicas de produtividade de um escritor.

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